Um grupo de brasileirinhos perambulava sob a chuva, pisando nas poças dos passeios imundos e assombrando os meninos fardados que retornavam das escolas.
Uma multidão de olhos apáticos, distante como o Estado, enxergava aquelas criaturas pequeninas, como monstros ameaçadores do futuro.
E os nove, famintos e obscenos articulavam estratégias de ataque como chacais urbanos, rebelados e loucos diante uma sociedade débil e acuada.
Os dias têm sido todos cheios de dor, Iguais aos que se passam em leitos de hospitais. Agonizantes e longos esses dias do nosso tempo.
Longos e lentos, como os idosos e as suas filas nas portas dos bancos e as dos desempregados nas portas das empresas. Doridos e vergonhosos como as filas dos pobres esperando atendimento nas casas de saúde.
E nós, prisioneiros em nossos medos, espantamos nossa falta de esperança, navegando na internet, nos compadecendo com as dores d’África, d’Ásia, d’Oriente, sonhando com Miami e às vezes, mascando chiclete e comendo banana como se fossemos os súditos de Baco, alegres e alienados.
Na quarta de cinzas, ainda nos enriquecemos na cultura do trio elétrico, dando exemplo de civilidade, aplaudimos o homem quase nu, quase roto, quase esfarrapado na avenida, ao som eufórico dos nossos cantos guturais.
Somos feras pacíficas ou pacificadas? E no tempo, continuaremos a perpetuar esses nossos dias?… Por aqui, ainda aprendemos a não calar, a não consentir, a não aceitar como bichos dóceis, a exploração e a mentira.
São Paulo chegou aqui, Burundi está aqui, Calcutá, Luanda, Moçambique, Mogadiçio, Bucareste, Rio e Sarajevo moram aqui. Dormem e respiram na alma da nossa gente. Do lado de lá, os povos costumam sentir a dor como os meninos rebelados.
E diante toda a realidade, o povo, parvo, continua a inebriar-se nos estádios e a se empanturrar com churrascos de gato e pinga, nas pobres pândegas da periferia, alheio ao Planalto e aos Palácios. Enquanto isto, alguns outros, contagiados pelo poder, absolutos em seus gabinetes, deitam e rolam no populismo das mídias corrompidas a consumirem, como “crak”, o povaréu. E, nos bastidores deliram como se estivesse em orgias nefastas.
Míopes por conveniência, a poderosa minoria e a alienada e pobre maioria, desprezam o fato, de que tão somente nas escolas, nas salas de aula, tão somente nelas, “doces-mentes”, serão formadas “sábias-mentes”, para cultivarem a esperança de que nossos meninos não continuem a crescerem escolados nas ruas, nem nossas famílias a serem tratadas como filhas bastardas no seio da Baiana Terra-Mãe gentil!!!…
Jair Araújo
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